Sunday, September 12, 2010

Desampara-me a loja, de uma vez por todas

"(...)
Há quem passe a vida inteira num estranho limbo. Não há mal nenhum em pensar "e se...?", mas quando isso ajuda a hipotecar o nosso futuro pode ser meio caminho andado para andarmos a vida toda agradecidos pelo que temos mas a lamentar o que gostariamos de ter tido. A verdade é que as histórias que não acabam impedem-nos de seguir totalmente em frente.

Não se trata de ser pessimista, de não acreditar no amor ou de não gostar de comédias românticas que têm um happy end quando eles deixam de andar desencontrados uma série de tempo (normalmente uns noventa minutos do filme, pelo menos). Todos gostávamos de estar num episódio de Anatomia de Grey e entrar no hospital para levar uns pontos por causa do corte no braço e encontrar a ex-namorada de infância que estava a acompanhar a mãe e agora está divorciada. Todos gostávamos que ela (a ex-namorada,...) tivesse a lata de chegar ao pé de nós e dizer "é de ti que eu gosto, nunca deixei de pensar em ti estes anos todos e quero voltar a ter uma oportunidade". Mas acham mesmo que ela diria isso? Ou essas coisas só acontecem no cinema e nas séries de televisão?
Em caso de dúvida, talvez fosse boa ideia se tivessse essa iniciativa. E dissesse o que lhe ia na alma. Deitar tudo cá para fora. Ir a jogo. Ou então fechar a porta de vez. E pensar, finalmente: "Desampara-me a loja, desaparece da minha vida, sai-me da frente e da imaginação de uma vez por todas, para eu poder ser feliz sem pensar em ti."

É claro que ainda vale a pena ter esperança. É claro que, "se acontece aos outros também pode acontecer-me a mim".

Mas não acha que se tiver de cair nos braços daquela pessoa em que está sempre a pensar, nem que seja quando já precisarem de ajuda para apertar os atacadores, isso acontecerá, independentemente da amargura que carregar entretanto?

Por isso...ficar à espera e desejá-lo secretamente enquanto diz "boa noite" ao seu marido ou à sua mulher é, no mínimo, injusto. Para ambos."


- Paulo Farinha in Notícias Magazine (12.09.2010)

2 comments:

MariMari said...

Obrigado pela partilha.
Fiquei marcadíssima com este artigo ao lê-lo na NM.
Também eu gostaria de ser mais arrojada e sincera nos sentimentos.
E também eu desejaria que o fossem comigo.
Sem medos nem receios. Apenas com a nossa pele e o nosso calor... ;)

Ana said...

Arrisca :)
Vale a pena, nem que seja pelo alívio de deitar tudo cá para fora! *