Wednesday, June 24, 2009

Gerês

Quando me levantei
já as minhas sandálias andavam
a passear lá fora na relva

Esta noite
até os atacadores dos sapatos
floriram

Jorge Sousa Braga

Tuesday, June 16, 2009

Onde há gente no mundo?

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

Friday, June 12, 2009

Divido o que conheço


Divido o que conheço.

De um lado é o que sou

Do outro quanto esqueço.

Por entre os dois eu vou.


Não sou nem quem me lembro

Nem sou quem há em mim.

Se penso, me desmembro.

Se creio, não há fim.


Que melhor que isto tudo

É ouvir, na ramagem,

Aquele ar certo e mudo

Que estremece a folhagem.


Fernando Pessoa

Thursday, June 11, 2009


Gostava que tudo fosse mais simples. Mais fácil.

Saturday, June 06, 2009

Taxi - Ontem, hoje e amanhã


Foi pena o som estar incrivelmente mau e tornar quase impossível sentir a magia dos anos 80. Mas o misticismo deles estava lá e as saudades eram mais que muitas. Ainda bem que voltaram :)

Thursday, June 04, 2009

Não gosto de números ímpares.