Repara no sol e como agora lhe sou tão alheia. Cheiro o teu espelho a rir-se de ti: cabelo despenteado e esfregar de olhos.
Odeio-te. E tenho-te raiva. E tenho em mim o despertar miudinho de um sentimento interior contido. São assim os seres humanos: um orgulho tremendo em ser amado e um medo terrível em abrir a pele. Gosto do teu riso, principalmente quando é o verdadeiro, e, ao mesmo, nunca sei que o é. Sou controversa.
Odeio-te, a ti, por esse meu quebrar de alma. Caco a caco vou repudiando o que és, na ânsia de te abraçar.
És a única pessoa com quem perco as palavras. Conheces a sensação? Não as tenho, num mundo tiranizado em que eu falo, falo, falo, me enrolo em vírgulas e parto paredes com os meus pontos de exclamação, apenas te consigo chicotear a interrogação e, na maior parte das vezes, faz ricochete. Felizes eram os dias de marisco e pôr-do-sol, em que eu era eu, connosco, e tu apenas me fazias rir.
O que é, quem é, o intervalo entre o que queremos e o que acontece? Guerras internas que queria poder atirar a ti, mas na verdade apenas me atiro por entre o branco do teu riso e o moreno da tua pele.