Wednesday, December 30, 2009
Tuesday, December 29, 2009
Saturday, December 26, 2009
Thursday, December 24, 2009
Dia de Natal
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas a luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bençãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão
Tuesday, December 22, 2009
Monday, December 21, 2009
Saturday, December 19, 2009
Friday, December 18, 2009
Se ainda der para disfarçar
Um segredo de criança escondido em mil gargalhadas
Tantas mãos que foram dadas na ternura de um abraço
Quantas vontades caladas na volta meiga de um passo
Quantas horas de viagem na alegria de te ver
Quanta falta de coragem, tanta coisa por dizer
E acabamos a esconder vá-se lá saber porquê
Nestas coisas do querer os sinais são para quem os lê
...
Faz de conta que o poente acontece a qualquer hora
Quando a noite se faz quente e um beijo se demora
Já o frio se foi embora ao tocar da tua mão
Que há-de ser de nós agora faz sentido sim ou não
Dá-me uma dança, faz-me acreditar
Uma lembrança p’ra eu levar
Que eu tenho sempre vontade de voltar e te dizer
Se ainda der p’ra disfarçar
Ensina-me a dançar
É a valsa do começo, é a vida a esvoaçar
É a pele a soltar um arrepio
É uma cor que eu não conheço, um sabor de acreditar
É uma praia cor de um desafio
...
Dá-me uma dança, faz-me acreditar
Uma lembrança p’ra eu levar
Que eu tenho sempre vontade de voltar e te dizer
Se ainda der p’ra disfarçar
Ensina-me a dançar
Ensina-me a dançar
Ensina-me a dançar
- Sebastião Antunes
Thursday, December 17, 2009
Wednesday, December 16, 2009
Os meus filmes #34
Tuesday, December 15, 2009
Os meus filmes #33
(...) A publicidade põe-nos a correr atrás de carros e roupas.
Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis.
Somos uma geração sem peso na história.
Sem propósito ou lugar.
Não temos uma Guerra Mundial.
Não temos a Grande Depressão.
A nossa Guerra é espiritual.
A nossa Depressão, são as nossas vidas.
Fomos criados através da TV para acreditar que um dia seríamos milionários, estrelas de cinema ou astros do rock.
Mas não somos. (...)
Monday, December 14, 2009
Claro, estava à espera que o fizesses.
E por onde devo começar?
Começar? Mas a história já vai a meio.
Talvez tenhas razão, mas quando se recomeça uma história é como se ela começasse de novo.
Então começa-a de novo, pelo princípio, que é pelo princípio que todas as histórias começam.
Mas a história já vai a meio, não posso começar pelo princípio.
Então recomeça-a, ou começa-a, tanto faz, que no fundo talvez seja a mesma coisa.
(…)
Talvez as histórias não tenham fim, talvez as histórias não tenham princípio. Estás a ver?
Saturday, December 12, 2009
Friday, December 11, 2009
Thursday, December 10, 2009
Wednesday, December 09, 2009
Monday, December 07, 2009
Sunday, December 06, 2009
Saturday, December 05, 2009
Friday, December 04, 2009
Thursday, December 03, 2009
Wednesday, December 02, 2009
Thursday, November 26, 2009
Wednesday, November 25, 2009
Odeio o Natal
Tuesday, November 24, 2009
Clarice
Friday, November 20, 2009
Wednesday, November 18, 2009
À espera que venhas um dia
Já passei a fronteira do todo
Nada é novo para mim
Já nada me faz delirar
Tudo tem o mesmo fim
Eu já não sinto saudade
Eu agora sou assim
Só quero um pequeno lugar
E lá plantar o meu jardim
Vem que eu enfrento contigo
A tensão do nosso tempo
Faz-me tu uma surpresa
Enquanto eu ainda aguento
Vem senão eu enlouqueço
Dentro da monotonia
Vem porque eu ainda vivo
À espera que venhas um dia
- Fernando Girão
Monday, November 16, 2009
Blow
Para que criam desentendimentos desnecessários? Para que ficam a lamentar-se à espera de milagres se não fazem nada por elas mesmas? Porque não dizem e mostram mais vezes quanto gostam das pessoas? Porque não complicam menos? Porque não são mais honestas com os outros e com elas mesmas? Porque não lutam? Porque não riem mais? Porque não procuram o lado positivo? Porque não cometem pequenas loucuras? Porque não arriscam?
Porque não vivem?
Tuesday, November 03, 2009
Sunday, November 01, 2009
Tudo é foi
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.
António Gedeão
Friday, October 30, 2009
Homem
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito.
António Gedeão
Thursday, October 29, 2009
Eu sou
Entrar para o banco de potenciais doadores de medula não custa mesmo nada!
Ajudem, não custa nada.
Saturday, October 24, 2009
Tuesday, October 20, 2009
Stop to notice
What about sunrise?
What about rain?
What about all the things
That you said we were to gain...?
What about killing fields?
Is there a time?
What about all the things
That you said was yours and mine...?
Did you ever stop to notice
All the blood we've shed before?
Did you ever stop to notice
The crying Earth the weeping shores?
What have we done to the world?
Look what we've done
What about all the peace
That you pledge your only son...?
...
Did you ever stop to notice
All the children dead from war?
Did you ever stop to notice
The crying Earth the weeping shores?
I used to dream
I used to glance beyond the stars
Now I don't know where we are
Although I know we've drifted far
Hey, what about yesterday?
What about the seas?
The heavens are falling down
I can't even breathe
What about the bleeding Earth?
Can't we feel its wounds
What about nature's worth?
It's our planet's womb
What about animals?
We've turned kingdoms to dust
What about elephants?
Have we lost their trust?
What about crying whales?
We're ravaging the seas
What about forest trails?
Burnt despite our pleas
What about the holy land?
Torn apart by creed
What about the common man?
Can't we set him free?
What about children dying?
Can't you hear them cry?
Where did we go wrong?
Someone tell me why
What about babies?
What about the days?
What about all their joy?
What about the man?
What about the crying man?
What about Abraham?
What about death again?
Do we give a dam?
Sunday, October 18, 2009
Saturday, October 17, 2009
Friday, October 16, 2009
Thursday, October 15, 2009
Wednesday, October 14, 2009
Livros
Tuesday, October 13, 2009
Monday, October 12, 2009
Saturday, October 10, 2009
Tuesday, October 06, 2009
Cúmulo
Monday, October 05, 2009
Sunday, September 27, 2009
O fim
Mas depois sinto-me exactamente igual ao dia anterior e a todos os outros. Não sinto alívio, nem missão cumprida, nem sinto sequer que foi o fim. Sinto apenas que vai começar mais uma "batalha", maior ainda do que a anterior...
Quer-me parecer que o fim de algo é sempre o início de outra coisa qualquer...
Thursday, September 17, 2009
Precisa-se de matéria prima para constuir um País
Thursday, August 20, 2009
Os meus filmes #28
Tuesday, August 04, 2009
Saturday, July 04, 2009
Thursday, July 02, 2009
Pensamento #1
Wednesday, June 24, 2009
Gerês
a passear lá fora na relva
Esta noite
até os atacadores dos sapatos
floriram
Jorge Sousa Braga
Tuesday, June 16, 2009
Onde há gente no mundo?
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?
Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
Friday, June 12, 2009
Divido o que conheço
Divido o que conheço.
De um lado é o que sou
Do outro quanto esqueço.
Por entre os dois eu vou.
Não sou nem quem me lembro
Nem sou quem há em mim.
Se penso, me desmembro.
Se creio, não há fim.
Que melhor que isto tudo
É ouvir, na ramagem,
Aquele ar certo e mudo
Que estremece a folhagem.
Fernando Pessoa
Thursday, June 11, 2009
Saturday, June 06, 2009
Taxi - Ontem, hoje e amanhã
Thursday, June 04, 2009
Sunday, April 12, 2009
Friday, April 10, 2009
Quando eu morrer
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis que alagámos de beijos
quando eram outras horas nos relógios do mundo
e não havia ainda quem soubesse de nós;
e leva-o depois para junto do mar,
onde possa ser apenas mais um poema
- como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros
e eu tinha medo de me deitar só com a tua sombra.
Deixa que nos meus braços pousem então as aves
(que, como eu, trazem entre as penas
a saudades de um Verão carregado de paixões).
E planta à minha volta uma fiada de rosas brancas que chamem pelas abelhas,
e um cordão de árvores que perfurem a noite
- porque a morte deve ser clara como o sal na bainha das ondas,
e a cegueira sempre me assustou
(e eu já ceguei de amor, mas não contes a ninguém que foi por ti).
Quando eu morrer,
deixa-me a ver o mar do alto de um rochedo e não chores,
nem toques com os teus lábios a minha boca fria.
E promete-me que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios;
e que depois os lanças na solidão de um arquipélago
e partes sem olhar para trás nenhuma vez:
se alguém os vir de longe brilhando na poeira,
cuidará que são flores que o vento despiu,
estrelas que se escaparam das trevas, pingos de luz,
lágrimas de sol, ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.
- Maria do Rosário Pedreira
Wednesday, April 08, 2009
Monday, April 06, 2009
Deve chamar-se tristeza
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
- Fernando Pessoa
Saturday, April 04, 2009
Eco
muito longe, uma estrela.
Cruel foi sempre o seu fulgor:
sonâmbulas cidades, ruas íngremes,
passos que dei sem onde.
Era esse o meu reino e era talvez essa
a voz da própria lua.
Aí ficou gravada a minha sede.
Aí deixei que o fogo me beijasse
pela primeira vez.
Agora tenho as mãos vazias,
regresso e sei que nada me pertence
- nenhum gesto do céu ou da terra.
Apenas o rumor de breves sombras
e um nome já incerto que por mágoa
não consigo esquecer.
- Fernando Pinto do Amaral
Wednesday, March 25, 2009
Tuesday, March 24, 2009
Sunday, March 22, 2009
Ausência
- Nuno Júdice in Pedro, lembrando Inês
Friday, March 20, 2009
Os meus livros #9
Wednesday, March 18, 2009
25/06/1985 - 11/03/2009
Não vou esquecer o sofrimento e a incredulidade nas expressões de todas as pessoas que te conheceram.
Não vou esquecer o desespero dela ao sentir-te desaparecer, o desespero de sentir a felicidade fugir, os planos desfazerem-se, o desencontro do amor que havia encontrado.