Monday, June 30, 2008
Quote
Pensamento atribuído a Osho
Sunday, June 29, 2008
O príncipe
Maquiavel in O Príncipe
Saturday, June 28, 2008
Friday, June 27, 2008
Wednesday, June 25, 2008
Grrrrr!
Tuesday, June 24, 2008
Primeiramente
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor de uma breve madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca – e sempre a tua boca – comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu.
- Eugénio de Andrade
Monday, June 23, 2008
Homenagem
dos frutos e das mãos,
do amor e dos amantes,
de todas as palavras, mesmo as interditas
do mar e do verão,
da água e da terra,
do sol e da sombra,
do branco e do obscuro,
do olhar e das cumplicidades
das rosas e da língua
do lume e da sede.
O poeta.
"Terra: se um dia lhe tocares
o corpo adormecido,
põe folhas verdes onde pões silêncio,
sê leve para quem o foi contigo.
Dá-lhe o meu cabelo para sonho,
e deixa as minhas mãos para tecer
a mágoa infinita das raízes
que no seu corpo um dia hão-de beber."
Eugénio de Andrade
Sunday, June 22, 2008
Friday, June 20, 2008
Cerco
Pedro Paixão in Amor Portátil
Thursday, June 19, 2008
Poesia
Wednesday, June 18, 2008
Saturday, June 14, 2008
Tempos difíceis...
Os políticos, habituados a arranjar um culpado para todas as coisas, atiram as culpas para os Estados Unidos e a China, a Rússia e o Iraque, a Venezuela e a OPEP. E a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e os peritos do costume dizem que a culpa é do dólar, do petróleo e da escassez de matérias-primas e de alimentos. Encontram sempre uma explicação conveniente, politicamente correcta, e raramente têm a coragem de pôr o dedo na ferida. Porque a ferida é dolorosa. A ferida, a chaga do mundo actual, é querer consumir mais do que aquilo que se produz. A ferida é gastar muito e trabalhar pouco. E isso não é possível sem provocar desequílibrios e injustiças.
Num mundo de recursos escassos, para alguns consumirem em excesso, outros terão de passar fome. Há, pois, que trabalhar e produzir mais, fazer mais sacríficios.
E de quem se espera tal comportamento? De toda a sociedade, obviamente. Mas principalmente dos jovens, porque é deles o futuro. E estarão estes disponíveis para tão importante tarefa?
Vejamos o exemplo de quatro jovens licenciados que eu conheço:
Bernardo, 25 anos, licenciado em Economia, filho de pai arquitecto e de mãe professora. Concluída a licenciatura com boa classificação foi trabalhar para uma multinacional de auditoria. Vencimento inicial: 900 euros mensais. Ao fim de TRÊS dias despediu-se alegando excesso de trabalho. Dada a sua reconhecida inteligência, regressou à universidade onde se encontra a frequentar um mestrado. Há-de fazer carreira no ensino, na administração pública, ou na política.
Maria, 28 anos, licenciada em Engenharia e Gestão Industrial, filha de pai operário e mãe empregada doméstica. Para pagar os estudos trabalhou na cantina da universidade durante todo o curso. O seu primeiro salário como estagiária de uma multinacional francesa foi de 800 euros. Trabalhou em várias sucursais europeias dessa empresa, regressando a Portugal para chefiar um importante departamento. Pela sua capacidade de trabalho e espírito de sacríficio tem o futuro assegurado. Aqui ou em qualquer outro lugar.
Vanessa, 26 anos, licenciada em Psicologia, filha de pai director fabril e mãe técnica de qualidade. Primeiro e único salário: 800 euros mensais. Está há dois anos desempregada. Recusa trabalhos não compatíveis com a sua formação universitária. Apesar dos limitados meios de fortuna dos seus progenitores tem um apartamento alugado, automóvel, e dá-se ares de pessoa importante.
António, 28 anos, licenciado em Matemática, filho de pais pequenos comerciantes. Depois de uma curta e frustrante experiência como professor, decide apostar num negócio próprio. Arrisca, investe e cria uma equipa de trabalho. Pequena mas coesa. O negócio expande-se, consolida-se e prospera. Hoje orgulha-se de ser considerado um jovem empresário de elevado potencial.
Quatro jovens, quatro casos. A Maria e o António, aliando a humildade, trabalho e risco, têm carreiras de sucesso. O Bernardo e a Vanessa, que se julgam credores de todos os direitos e mordomias, marcam passo, vivendo à custa dos pais e da sociedade.
Felizmente há mais Antónios do que Bernardos e mais Marias do que Vanessas.
É isso que me faz acreditar num futuro melhor. "
- Carlos A. Abrantes in Soberania do Povo
Não sei se concordo que há mais Antónios e Marias do que Bernardos e Vanessas. Por isso é que estamos assim. Mas oxalá eu esteja errada.
Parabéns
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa algures e algures acaba
E que longe e atrás disso há absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e terá um fim,
E que antes e depois disso não havia tempo.
Porque há-de ser isto falso? Falso é falar de infinitos
Como se soubéssemos o que são de os podermos entender.
Não: é tudo uma quantidade de coisas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é coisas.
Wednesday, June 11, 2008
Tuesday, June 03, 2008
Eternamente
E escrevi o teu nome e o o teu número de telefone numa página da agenda do mês de Fevereiro. E, ao escrevê-lo, sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida, como caranguejos na maré vazia. Sem ti, lancei outras raízes, construí pátios e terraços, fontes cujo som deveria apagar todos os silêncios, plantei um pomar com cheiro a damasco, mandei fazer um banco de cal à roda de uma árvore para olhar as estrelas do céu, um caminho no meio do olival por onde o luar pousaria à noite, abóbadas de tijolo imaginadas pelo mais sábio dos arquitectos a até teias de aranha suspensas do tecto, como se vigiassem a passagem do tempo. Nada disso tu viste, nada te contei, nada é teu. Sozinhos, eu e a aranha pendurada na sua teia, contemplámo-nos longamente, como quem se descobre, como quem se recolhe, como quem se esconde. Foi assim que vi desfilar os anos, as paredes escurecendo, um pó de tijolo pousando entre as páginas dos mesmos livros que fui lendo, repetidamente. Heathcliff e Catarina Linton destroçados outra vez pela minúcia do tempo.
Como explicar-te como tudo isto se te tornou alheio, como tudo te pareceria agora estranho, como nada do que foi teu vigia o teu hipotético regresso? Ulisses não voltará a Ítaca e Penélope alguma desfará de noite a teia que te teceste.
E arranquei a página da agenda com o teu nome e o teu número de telefone. Veio a seguir Abril e depois o Verão. Vi nascer a flor da tremocilha e a das buganvílias adormecidas, vi rebentar o azul dos jacarandás em Junho, vi noites de lua cheia em que todos os animais nocturnos se chamavam rãs, corujas e grilos, e um espesso calor sobre a devassidão da cidade. E já nada disto, juro, era teu.
E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.
Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
Miguel de Sousa Tavares in "Não te deixarei morrer David Crockett"