É ponto assente aceite por todos, quer a nível nacional, quer a nível internacional, que somos um país pobre. As estatísticas, os políticos, os sociólogos, são unânimes em afirmá-lo.
É certo que ao longo da nossa também longa história, temos tido já períodos de mais prosperidade. Mas isso são “foguetadas”, para depois tornarmos a cair, não “na austera, apagada e vil tristeza”, mas naquilo que parece ser a nossa fatal e atávica mediocridade.
Não sou sociólogo, mas tenho a minha opinião, que nunca em tempo algum tive medo de expressar, com todo o respeito que tenho pelas alheias, mesmo que diferentes das minhas.
É dessa análise, que não pretendo que seja mais do que a minha opinião, de que hoje me proponho falar em breves linhas.
Neste rectângulo “à beira-mar plantado”, que por alturas da independência era a pequena extensão da Galiza até ao Mondego, porque o resto foi sendo conquistado aos mouros, nunca teve autonomia económica para viver desafogadamente. E por mais que os nossos poetas e prosadores tenham tentado arranjar outros motivos e justificações para as descobertas, como a “dilatação da fé e do império”, a verdade prosaica é, para mim, que o que os moveu foi, apenas, a busca de rendimentos que lhes permitissem uma vida melhor, o que é legítimo, se for honestamente conseguido, o que parece que nem sempre foi o caso.
Com as descobertas deixámos de ser apenas um país de agricultores de auto-consumo, mas também de navegadores e colonizadores.
Este foi o nosso principal “desenrascanço” até perdermos todas as colónias.
Mas a figura do “Velho do Restelo” já nos mostra que nos tempos de Vasco da Gama havia os “queixinhas”.
Chegados à democracia com o 25 de Abril e reduzidos à nossa plataforma continental, mais a Madeira e os Açores, continuámos a “desenrascar-nos” com as ajudas comunitárias, depois da nossa adesão.
E duma época em que falar em política era apenas permitido para louvar, seguiu-se outra, em que falar só é usado para lamúrias. É impressionante e deve ser uma vida horrível a daquelas pessoas que não vêem nada de bom à sua volta e não se cansam de o anunciar, quer pela palavra, quer pela escrita. Está sempre tudo mal!
Sempre fomos defensores dum tipo de sociedade que dê a todos os indivíduos as mesmas hipóteses à partida. O resto depende das aptidões e do esforço de cada um. Um Estado que procure ajudar aqueles que se esforçam a aqueles que não podem trabalhar e não aqueles que passam a vida a queixar-se de tudo e de todos, à caça de todos os subsídios com a única finalidade de fugir ao trabalho.
Em vez de passarmos a vida a lamentar-nos, porque é que não vamos à luta? Porque é que a culpa é sempre dos governos e nunca nossa?
Desde 1500 que os portugueses foram à procura duma vida melhor a outras paragens. A esses rendo a minha homenagem e àqueles quatro milhões e meio que ainda hoje andam espalhados pelos quatro cantos do Mundo.
Não quero com isto dizer que o ideal não seja termos todos trabalho e condições na nossa terra. O facto disso nunca ter sido conseguido até agora, não quer dizer que paremos de tentar. Eu sou dos que pensam que há ainda muito potencial a explorar. Temos de ser é suficientemente imaginativos. Mas do que não podemos é estar à espera que os governos, sejam eles quais forem, nos façam tudo. Se assim pensarmos vamos morrer sem o conseguir
Não queremos desculpabilizá-los dos seus erros, porque sempre os tiveram e terão. É bom que sejam cada vez menos. O que não podemos é fazer passar a ideia que os governos sejam os culpados de tudo, mesmo quando nós não prestamos como trabalhadores, como empresários ou como simples cidadãos.
A coisa mais fácil do mundo é arranjar culpados.
Outra coisa que não aceitamos é que sistematicamente, se estabeleçam paralelos com outros povos para salientar aquilo que eles têm melhor do que nós. Eles têm tudo o que é bom e nós só o que é mau.
Só a título de exemplo: será que tenhamos de ter inveja aos atentados no comboio em Espanha, da ETA e nos seus numerosos actos de terrorismo? Será que tenhamos como bom os milhares de carros incendiados em França? Será que seja aceitável o que se passou na Holanda entre católicos e protestantes? E os atentados no metro de Londres e o receio permanente de que aconteçam mais? E o 11 de Setembro nos Estados Unidos? E a crise bolsista? E o endividamento das famílias, que parece é bastante superior ao nosso?
- E os conflitos no Médio Oriente?
- E os assaltos no Brasil?
- Etc., etc., etc.
Será que, por ser noutros locais do mundo, esses povos encarem isso como simples diversões?!
Se está tudo assim tão mau entre nós, porque razão estamos a ter problemas com a obesidade?
Desde quando é que a obesidade é um sinal de privações?
É que o El Dorado, do Cândido, de Voltaire, nunca mais esteve ao alcance da humanidade, desde Adão. Quando isso acontecer, ao darmos o salto para a outra vida (?), podemos então dizer que não “passamos desta para melhor”.
Até lá, tal como Leibniz, temos de considerar que este é “o melhor dos mundos possíveis”, mas como Voltaire, com hipóteses de melhorias. Mas temos todos, governantes e governados, de fazer por isso.
Joaquim São Bento