«Vocês os dois ficaram lost in translation», dizem-me, não é uma alusão ao filme, mas podia, não sabem que ela tantas vezes confessou que sentia exactamente como aquela rapariga e desejava um segredo puro dito a um único ouvido, um segredo que não ouvíssemos, o tédio feliz e lasso das noites de Tóquio, nós a dormirmos na mesma cama sem nos tocarmos. «Lost in translation» porque não comunicamos na mesma língua, ela fala uma língua pragmática e exasperada, decidida e inquieta, eu uso uma língua idealista e seca, exaltante e hesitante, que nunca se encontram, nunca se equivalem, e eu penso à noite, talvez ela pense também, que vida seria essa, que vida teria sido a nossa, se alguma vez tivesse havido uma vida que fosse nossa? «Vocês os dois ficaram lost in translation», dizem-me, que resumo tão certo e triste.
Pedro Mexia
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